retrato em branco e preto
beré lucas - 1986
beré lucas - 1986

obs.: estes poemas foram escritos durante o
......... período da ditadura militar (1972 a 1986),
......... onde expresso minha indignação ao regime
......... ditatorial, que marcou profundamente, de
......... maneira sórdida, a liberdade do povo
......... brasileiro.
no país do medo
(inspirada num texto de frederico garcia lorca)
por detrás das bocas
palavras são gritos
(nas bocas caladas
mordaças silentes)
por detrás dos gestos
mãos trucidam
(nos gestos contidos
algemas de aço)
geografia da fome
me perco na geografia dos fuzis
baionetas soturnas
calam vozes
limitam vidas
aparentemente
não há dor
num país de out-doors
enquanto isso
o povo
come calado
o pão
que o diabo amassou com o rabo
liberdade
não vou
aprisionar
passarinho
na palavra
nem fincá-lo
em teias
de tintas
suas ágeis asas
não foram feitas
pra argila
e nem o seu canto
tem tons
pra escala
abro as grades
do tempo
e deixo ruflar
no peito
as asas do passarinho
alerta
se você
escutar
um tiro
o alvo pode ser você
se você
ouvir
um grito
a boca pode ser a sua
nestes tempos
seu corpo
pode cair
na rua
a qualquer momento
quando você menos esperar
cassiano recordo
enquanto seu corpo
jaz inerte
sob este chão que piso
os homens em constante correria
se agitam e se atropelam desvairados
do arranha-céu de vidro vislumbro
(ainda agora) as fábricas
em que se consomem os homens
a banda esquizofrênica
como que por encnto
parou
já não vejo o elefante
que ainda a pouco
atropelava os transeuntes
onde ainda o elefante branco?
ban de ira
meu mundo azul
(de bandeira branca)
no verde-amarelo
sem palavras
sem estrelas
meu mundo azul
(de bandeira branca)
concreto e frio
como a arma branca
monotortura
brasil
febre fabril
brasil
fé de fuzil
réquiem para mim mesmo
......................... "oh! coração perdido!
......................... réquiem aeternum!"
.......................................... lorca
breve
e provisório
(enquanto cheiro
enquanto cor)
sou flor
eterno
e constante
(enquanto terra
enquanto dor)
sou tempo
cheiros
me dilaceram
ponteiros
me trucidam
neste breviário
(diário constante)
nesta missa
(cinza das horas)
de corpo presente
compromisso
meu silêncio
cheira a sangue
não vou reter o gesto
limitar a fala
há uma vala vazia
esperando corpos
e o silêncio me dói
feito fuzil
num corpo amigo
latifuneral
na latrina
latina
ladrões
lunáticos
enlatam
lutas
os invasores
alguém pegou a chave
abriu a porta
penetrou no meu quarto
e pintou o país de verde-amarelo
um fuzil espreita minha solidão
anti-toada para os que não podem e não querem lutar
os que não podem
os que não querem lutar
estão calados
o fuzil é tão forte
o ar tão impuro
que ninguém ousa
levantar a voz
os que não podem
os que não querem lutar
estão calados
estão calados
sofrendo
e ninguém ouve o grito
que se amortalha
por detrás do canto
canto favelado
atrás do peito
veredas
trago imerso
o grito
atrás dos olhos
profundos
trago visões
de mortalhas
atrás da boca
vazia
trago a barriga
da fome
no país da anestesia
olhos vazados
não vêem miséria
ouvidos moucos
não escutam gritos
nariz sem faro
não cheira morte
mãos sem vida
não tateiam coisas
na boca lacrada
não entra mosquito
o fantasma da morte
ciprestes no espaço
entorpecem o ar
corvos soturnos
grasnam noturnos
a lua medonha
está ressentida
a chuva soluça
crepita trovões
o céu noctâmbulo
recobre a terra
e o país morre
a cada segundo
......... período da ditadura militar (1972 a 1986),
......... onde expresso minha indignação ao regime
......... ditatorial, que marcou profundamente, de
......... maneira sórdida, a liberdade do povo
......... brasileiro.
no país do medo
(inspirada num texto de frederico garcia lorca)
por detrás das bocas
palavras são gritos
(nas bocas caladas
mordaças silentes)
por detrás dos gestos
mãos trucidam
(nos gestos contidos
algemas de aço)
geografia da fome
me perco na geografia dos fuzis
baionetas soturnas
calam vozes
limitam vidas
aparentemente
não há dor
num país de out-doors
enquanto isso
o povo
come calado
o pão
que o diabo amassou com o rabo
liberdade
não vou
aprisionar
passarinho
na palavra
nem fincá-lo
em teias
de tintas
suas ágeis asas
não foram feitas
pra argila
e nem o seu canto
tem tons
pra escala
abro as grades
do tempo
e deixo ruflar
no peito
as asas do passarinho
alerta
se você
escutar
um tiro
o alvo pode ser você
se você
ouvir
um grito
a boca pode ser a sua
nestes tempos
seu corpo
pode cair
na rua
a qualquer momento
quando você menos esperar
cassiano recordo
enquanto seu corpo
jaz inerte
sob este chão que piso
os homens em constante correria
se agitam e se atropelam desvairados
do arranha-céu de vidro vislumbro
(ainda agora) as fábricas
em que se consomem os homens
a banda esquizofrênica
como que por encnto
parou
já não vejo o elefante
que ainda a pouco
atropelava os transeuntes
onde ainda o elefante branco?
ban de ira
meu mundo azul
(de bandeira branca)
no verde-amarelo
sem palavras
sem estrelas
meu mundo azul
(de bandeira branca)
concreto e frio
como a arma branca
monotortura
brasil
febre fabril
brasil
fé de fuzil
réquiem para mim mesmo
......................... "oh! coração perdido!
......................... réquiem aeternum!"
.......................................... lorca
breve
e provisório
(enquanto cheiro
enquanto cor)
sou flor
eterno
e constante
(enquanto terra
enquanto dor)
sou tempo
cheiros
me dilaceram
ponteiros
me trucidam
neste breviário
(diário constante)
nesta missa
(cinza das horas)
de corpo presente
compromisso
meu silêncio
cheira a sangue
não vou reter o gesto
limitar a fala
há uma vala vazia
esperando corpos
e o silêncio me dói
feito fuzil
num corpo amigo
latifuneral
na latrina
latina
ladrões
lunáticos
enlatam
lutas
os invasores
alguém pegou a chave
abriu a porta
penetrou no meu quarto
e pintou o país de verde-amarelo
um fuzil espreita minha solidão
anti-toada para os que não podem e não querem lutar
os que não podem
os que não querem lutar
estão calados
o fuzil é tão forte
o ar tão impuro
que ninguém ousa
levantar a voz
os que não podem
os que não querem lutar
estão calados
estão calados
sofrendo
e ninguém ouve o grito
que se amortalha
por detrás do canto
canto favelado
atrás do peito
veredas
trago imerso
o grito
atrás dos olhos
profundos
trago visões
de mortalhas
atrás da boca
vazia
trago a barriga
da fome
no país da anestesia
olhos vazados
não vêem miséria
ouvidos moucos
não escutam gritos
nariz sem faro
não cheira morte
mãos sem vida
não tateiam coisas
na boca lacrada
não entra mosquito
o fantasma da morte
ciprestes no espaço
entorpecem o ar
corvos soturnos
grasnam noturnos
a lua medonha
está ressentida
a chuva soluça
crepita trovões
o céu noctâmbulo
recobre a terra
e o país morre
a cada segundo
Nenhum comentário:
Postar um comentário