terça-feira, 5 de maio de 2009

o jogo das palavras

o jogo das palavras (poesias infantis) - 1999
o gato sonhador ö
o gato
angorá
já não
quer caçar

fica
o dia inteiro
de pernas
pro ar

esperando
que a vida
lhe sirva
um atum

inocência

anjinhos pelados
no varal do arco-íris
dependuram suas asas
e tomam sol

cabritando

a bicicleta do menino
é mais que poesia
quando "cabrita" faz lindo
na gravidade se fia
desafiando a vontade
do outro menino que espia
o brio da brincadeira
sem eira mais que devia
na beira do encantado
da bicicleta tão viva

coisa de doido

quando o menino
chegou no céu
(nem tinha feito dez anos)
ele ficou encantado:

são pedro de pé quadrado
saltitava de muleta
(que nem um capeta)
corria atrás dos anjos

saudade

saudade
é que nem passarinho
que fugiu da gaiola

a gente
só sente
o seu canto

aventura

o BATMAN




deu um sopapo
no vento

super star

liberto da gaiola
passarinho virou anjo

com pouco tempo no céu
aprendeu a tocar banjo

e montou com gabriel
o mais famoso arcanjo

um conjunto de jazz

gripe

o sol amanheceu morno
sem vontade de raiar

atrás da montanha


começou a espirrar

dá pra acreditar?

o bicho papão
assustou de montão
e tá com dor de barriga

- intriga da oposição

faz tempo que o coitado
não assusta nadinha
com medo da minhoca

o cuco

o que mais
me encuca
é o cuco
lelé da cuca
do relógio
que o dia
inteiro
de hora
em hora
a toda hora
sai pra fora
da gaiola
do tempo
só pra marcar
e nunca quis
em hora alguma
no céu aprontar
o seu voar

saudade

meu tempo
tem dois ponteiros
um marca seis
outro quatro
como brincam
esses ponteiros
bagunçando
pelo espaço

meu tempo
tem dois ponteiros
uma marca seis
outro quatro
no mostrador
do meu peito
esses ponteiros
me fartam

coração de menino

coração de menino
é um desejo secreto
baú de surpresas
repleto de invenções

- - - - - - - - - - - - - - -

que esse H
minúsculo da História
fique com os grandes

que esse e
maiúsculo da estória
fique comigo

era uma vez

quando penso nessas coisas
velejo pela memória
vou sonhando
de vagar ...

dois tempos

em cima da mesa
o sol é um ovo
ninando seus raios
por dentro da casca

quebrado no chão
o ovo é um sol
molhado de brilho
por fora da casca

perdido

tô perdido
que nem tal passarinho
na gaiola do tempo

- num pio nada!

leilão das coisas

quem dá mais
por um periquito
de bico dourado
e asas de vento

quem dá mais
por uma borboleta
cheia de tretas
colorida de cores

quem dá mais
por um jasmim
só no jardim
inventando coisas

quem dá mais
por um papagaio
com raios de luz
e rabo de sol

quem dá mais
por uma nuvem
nuinha de cores
e de formas tão raras

quem dá mais
por um regato
recatado num canto
e de águas azuis

quem dá mais
pelo papel em branco
cheio de encantos
e de poesia sedento

papagaio no céu

papagaio no céu
pegou carona no vento
e no seu doce contento
saltitou feliz no sol

papagaio no céu
brincou de ser criança
comeu tanto algodão-doce
que encheu a pança de nuvens

papagaio no céu
ficou tão encantado
que se inventou de cometa
pra na noite ser notado

coisa de (in)vento

o vento vinha ventando
brincando de ventania
assoviava e sorria
muito mais do que devia

e feito menino de rua
que na pelada se fia
s'enrolava na poeira
redemoinhos fazia

tentação

o capetinha (coitado)
já não pode descansar
faz tempo que o tadinho
não dorme
tá vermelho prá daná

um bando de anjinhos
(atentados)
só vivem a aprontar
na porta do inferno
(baderna)
cantoria sem parar

batucam samba nas nuvens
ruflam asas pelo ar

lua branca

a lua branca
no céu
arma o seu tecido
de uma leveza
que parece flutuar

é tão clara
que chega
a ser transparente
que dá pra gente
ver são jorge cavalgar

a lua branca
no espaço
é tão formosa
é que nem rosa
desabrochando no ar

é tão redonda
que até
parece um queijo
que da vontade
da gente beliscar

globalização

o mundo que era grandão
ficou bem pitititinho:
se chover no meu quintal
o mundo molha todinho

papagaio

menino na rua
com vento de agosto
da gosto de ver:

cabeça no céu
além do infinito
futrica papel

dor de dente

o rato foi ao dentista
pra dor de dente parar

chegando lá o coitado
mal podia falar

a boca estava inchada
dava dó de espiar

- abra a boca seu ratinho
vamos ver o que quê há

o dentista cheio de cuidados
começou a trabalhar

depois de muito tempo
pôde então se observar

um caroço de azeitona
um bitelo pra daná

estava preso no dente
garradinho no molar

infância

a poeira da rua
o pé na bola
o quintal do vizinho
a goiaba roubada
a água do rio
o corpo molhado
papagaios no vento
liberdade tramada

um fio de sonho
lembrança tecida
passado de infância
lamento perdido
saudade no peito
soluço pingado
menino no tempo
a alma partida

são joão

no céu estrelado
a lua vaidosa
se enfeita bonita
com um broche
dourada

na terra iluminada
a fogueira sapeca
estalando madeira
se faz infinita
chama

saudade

a saudade é um menino
perdido na vida do vento
feito papagaio antigo
que não encontrando abrigo
dá piruetas no tempo

e quando chega agosto
os olhos no seu contento
espiam além da linha
no horizonte do invento

só pra ser criança
outra vez

uma coisa puxa outra

no quintal da fantasia
plantei uma semente
pra semente virar flor

no canteiro da esperança
reguei uma flor
pra flor crescer árvore

nos galhos da certeza
alimentei um tronco
pro tronco ser bem forte

no forte da brincadeira
teci uma gangorra
pra gangorra m'embalar

no embalo desse sonho
balanguei uma criança
só por gosto de inventar

Um comentário:

  1. O seu jogo de palavras brinca com minhas saudades!

    Parabéns, Beré!

    Luiz Fernando Estevam

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