copyright 1978 by: beré lucas
Editora Comunicação (2ª edição)
Informações:
Este livro representou o Brasil
na 16ª Fiera del Libro per Ragazzi - 1979
Bolonha - Itália.
. "O trabalho com a sonoridade em As asas
azuis da andorinha preta (1978), de Beré Lucas,
alia-se à concisão, o que torna este livro muito
raro: bastante próximo da prática poética
contemporânea herdeira das vanguardas dos anos 50.
" (Marisa Lajolo / Regina Zilberman - Literatura
Infantil Brasileira - História & Histórias - Ática - 1991).
"As asas azuis da andorinha preta" também fala de liberdade.
Assim se exprime seu autor, Beré Lucas, professor, diretor e
ator de teatro, já tendo participado de muitas peças em Belo
Horizonte: "a andorinha é simbolo de liberdade.
É a busca do infinito. Por isto escolhi o azul para a capa".
Menino do interior, acostumado a tomar banho em rio,
Beré Lucas é favorável ao trabalho da sensibilidade da criança:
"eu percebo que muitas professoras não sabem trabalhar a
sensibilidade da criança, mas se preocupam muito com a gramática".
Para ele, a criança precisa ter liberdade para criar.
"Muita criança faz poesia. É preciso dar liberdade para ela recriar
e criar a sua própria".
"Não existe uma literatura exclusiva do público infantil",
reconhece Beré Lucas. "A poesia infantil também agrada ao adulto
e muitas vezes a literatura do adulto agrada à criança".
(Diário da Tarde - 29 de setembro de 1978)
AS ASAS AZUIS DA ANDORINHA PRETA - (Editora Comunicação)
"Quando Jacqueline / nasceu / fala baixo / virou grito. / Meu pai
/ avô novato / ficou chato / - psiu! Jacqueline está dormindo".
Este é um dos poemas de Beré Lucas que fazem parte deste seu
livro de estréia dedicada às crianças Beré já é bem conhecido do
público mineiro pelo seu trabalho em teatro, onde, recentemente
dirigiu as montagens apresentadas pelo grupo Cenaforte, como
A Morta e Pic Nic no Front. O seu trabalho em teatro é bastante
criativo e reflete bem a competência de Beré Lucas. Neste livro, que
não pode ser comparado à sua criação teatral, já que são dois trabalhos
bem diferentes, inclusive o tipo de público que busca atinfir, mostra
também o que Beré pode fazer com as palavras. Brincando com elas
(o dado doido do duda / feito para só letrar...) ou brincando com as
crianças (bacia / que vira volante / pernas / que viram pneus
/ corpo emborcado / é capota / um carro / o menino teceu) ele fêz um
livro divertido que vai agradar a todos.
as asas azuis da andorinha preta
quanta suavidade
nestas asas que planam
quanta certeza
neste bico que bebe
quanta alegria
neste canto que sai
ai! que tanto azul
nestes olhinhos que espiam
o dado doido do duda
o dado doido do duda
feito pra só letrar
gira feito doido
adoidado
dá E aqui
U acolá
tropeça no I
escorrega no A
e se esconde no O
menino bobo
este menino
inhec inhec
só sabe
mascar chicletes

borboleta dourada
borboleta dourada
alada
no vento
cheira rosa
alisa o tempo
borboleta dourada
descuidada
na lida
vive breve
na lei da vida
aprendizagem
passarinho
que sai do ninho
sai de mansinho
mas daí
a pouquinho
aprende caminhos
e faz avoadas
bang-bang
chapéu de papel
cavalo de pau
esporas tilintam
olhar muito mau
passos seguros
artista total
gesto ligeiro
momento fatal
arma que cospe
fogo infernal
corpo que tomba
bandido banal
manhã na roça
raios de sol
raiar do dia
canto de galo
que anuncia
berro de vaca
lá no curral
olhos se abrindo
janelas que espiam
piar de pintos
pingos de vida
breve e leve
na rosa
que brota
formosa
quanta beleza
no destino
breve
da rosa
quanta tristeza
argila
no tosco
da argila
o toque
da mão
mão de lira
não vacila
a mão
ágil
ajeita
o gesto
sopro de brisa
no coração
da mão
de lira
do sopro
na mão
nasce gente
que nem adão
rompendo elos
menino
na linha
que nem periquito
cumpre castigo
não dá
um grito
pra que gritar
se a linha está
no carretel
no pé
da mesa
menino
não emenda
remenda linha
alonga a lida
e faz da vida
um desafiar contínuo
retros-cedendo
caminhando
pés de meninos
que fazem caminhos
caminhada
pios de pintos
seguindo galinha
ninhada
passos são pios
saindo do ninho
primeiras pisadas
folhinha
folha fina felina felpuda
voando solta no vento
fere rosto desatento
arranha-céu
rabeca
a boneca
da menina quieta
se chama rabeca
quando a menina
pega a boneca
fica inquieta
seus olhos brilham
que nem os olhinhos
da boneca
quanta festa
tecendo
este sol
é um sol
não é um girassol
este céu
é um céu
não é um véu azul
sol
que gira sol
céu
que gera azul
onde o véu
jacqueline
quando jacqueline
nasceu
fala baixo
virou grito
meu pai
avô novato
ficou chato
- psiu! jacqueline está dormindo
um espinho no ninho
um espinho
no ninho da ave
(AVE MARIA)
a ave não viu
e uma gota de sangue
no chão
tinge o céu de vermelho
brincando
bacia
que vira volante
pernas
que viram pneus
corpo emborcado
é capota
um carro
o menino teceu
galinha choca
galinha choca
boboca
não empoleira
em poleiro
fica o dia inteiro
esquentando ovos
se irrita à toa
por coisa de nada
fica arredia
arrepiada
não liga pro galo
nem sai pro quintal
e seu corocó
é maternal
e quando menos se espera
lá vem ela
toda prosa
vaidosa
ciscando e mostrando
como quem sabe
a vida
pros pintinhos
a menina sonha
a menina sonha
sem fronha
flutua
no espaço
dá piruetas
enche a terra
de margaridas
brinca
com o sol
recorta
o céu
faz carrossel
de borboletas
já cansada
de tanto sonhar
apronta o ninho
e adormece
no patamar
bailarina
esta menina
que balança
o corpo
que sente
no rosto
suave brisa
que desliza
pelo chão
co'as mãos
suspensas no ar
que sorri
toda feliz
toda feita
de filó
que flutua
feito pena
pequenina
é a menina
bailarina
bailando no ar
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