sábado, 28 de março de 2009

as asas azuis da andorinha preta

as asas azuis da andorinha preta
copyright 1978 by: beré lucas
Editora Comunicação (2ª edição)


Informações:
Este livro representou o Brasil
na 16ª Fiera del Libro per Ragazzi - 1979
Bolonha - Itália.


. "O trabalho com a sonoridade em As asas
azuis da andorinha preta (1978), de Beré Lucas,
alia-se à concisão, o que torna este livro muito
raro: bastante próximo da prática poética
contemporânea herdeira das vanguardas dos anos 50.
" (Marisa Lajolo / Regina Zilberman - Literatura
Infantil Brasileira - História & Histórias - Ática - 1991).

"As asas azuis da andorinha preta" também fala de liberdade.
Assim se exprime seu autor, Beré Lucas, professor, diretor e
ator de teatro, já tendo participado de muitas peças em Belo
Horizonte: "a andorinha é simbolo de liberdade.
É a busca do infinito. Por isto escolhi o azul para a capa".
Menino do interior, acostumado a tomar banho em rio,
Beré Lucas é favorável ao trabalho da sensibilidade da criança:
"eu percebo que muitas professoras não sabem trabalhar a
sensibilidade da criança, mas se preocupam muito com a gramática".
Para ele, a criança precisa ter liberdade para criar.
"Muita criança faz poesia. É preciso dar liberdade para ela recriar
e criar a sua própria".
"Não existe uma literatura exclusiva do público infantil",
reconhece Beré Lucas. "A poesia infantil também agrada ao adulto
e muitas vezes a literatura do adulto agrada à criança".
(Diário da Tarde - 29 de setembro de 1978)



AS ASAS AZUIS DA ANDORINHA PRETA - (Editora Comunicação)
"Quando Jacqueline / nasceu / fala baixo / virou grito. / Meu pai
/ avô novato / ficou chato / - psiu! Jacqueline está dormindo".
Este é um dos poemas de Beré Lucas que fazem parte deste seu
livro de estréia dedicada às crianças Beré já é bem conhecido do
público mineiro pelo seu trabalho em teatro, onde, recentemente
dirigiu as montagens apresentadas pelo grupo Cenaforte, como
A Morta e Pic Nic no Front. O seu trabalho em teatro é bastante
criativo e reflete bem a competência de Beré Lucas. Neste livro, que
não pode ser comparado à sua criação teatral, já que são dois trabalhos
bem diferentes, inclusive o tipo de público que busca atinfir, mostra
também o que Beré pode fazer com as palavras. Brincando com elas
(o dado doido do duda / feito para só letrar...) ou brincando com as
crianças (bacia / que vira volante / pernas / que viram pneus
/ corpo emborcado / é capota / um carro / o menino teceu) ele fêz um
livro divertido que vai agradar a todos.



as asas azuis da andorinha preta


quanta suavidade
nestas asas que planam



quanta certeza
neste bico que bebe


quanta alegria
neste canto que sai

ai! que tanto azul
nestes olhinhos que espiam


o dado doido do duda


o dado doido do duda
feito pra só letrar
gira feito doido
adoidado


E aqui
U acolá
tropeça no I
escorrega no A


e se esconde no O


menino bobo


este menino
inhec inhec
só sabe
mascar chicletes

















borboleta dourada


borboleta dourada
alada
no vento


cheira rosa
alisa o tempo


borboleta dourada
descuidada

na lida


vive breve
na lei da vida


aprendizagem


passarinho
que sai do ninho
sai de mansinho


mas daí
a pouquinho
aprende caminhos
e faz avoadas


bang-bang


chapéu de papel
cavalo de pau


esporas tilintam
olhar muito mau


passos seguros
artista total


gesto ligeiro
momento fatal


arma que cospe
fogo infernal


corpo que tomba
bandido banal


manhã na roça


raios de sol
raiar do dia


canto de galo
que anuncia


berro de vaca
lá no curral


olhos se abrindo
janelas que espiam


piar de pintos
pingos de vida


breve e leve


na rosa
que brota
formosa


quanta beleza


no destino
breve
da rosa


quanta tristeza


argila


no tosco
da argila
o toque
da mão


mão de lira
não vacila


a mão
ágil
ajeita
o gesto


sopro de brisa
no coração


da mão
de lira
do sopro
na mão


nasce gente
que nem adão


rompendo elos


menino
na linha
que nem periquito
cumpre castigo
não dá
um grito


pra que gritar
se a linha está
no carretel
no pé
da mesa


menino
não emenda


remenda linha
alonga a lida
e faz da vida
um desafiar contínuo
retros-cedendo


caminhando


pés de meninos
que fazem caminhos
caminhada


pios de pintos
seguindo galinha
ninhada


passos são pios
saindo do ninho
primeiras pisadas


folhinha


folha fina felina felpuda
voando solta no vento


fere rosto desatento
arranha-céu


rabeca


a boneca
da menina quieta
se chama rabeca


quando a menina
pega a boneca
fica inquieta


seus olhos brilham
que nem os olhinhos
da boneca


quanta festa


tecendo


este sol
é um sol
não é um girassol


este céu
é um céu
não é um véu azul


sol
que gira sol
céu
que gera azul


onde o véu


jacqueline


quando jacqueline
nasceu
fala baixo
virou grito


meu pai
avô novato
ficou chato


- psiu! jacqueline está dormindo


um espinho no ninho


um espinho
no ninho da ave


(AVE MARIA)
a ave não viu


e uma gota de sangue
no chão
tinge o céu de vermelho


brincando


bacia
que vira volante


pernas
que viram pneus


corpo emborcado
é capota


um carro
o menino teceu


galinha choca


galinha choca
boboca
não empoleira
em poleiro
fica o dia inteiro
esquentando ovos


se irrita à toa
por coisa de nada
fica arredia
arrepiada


não liga pro galo
nem sai pro quintal
e seu corocó
é maternal


e quando menos se espera


lá vem ela
toda prosa
vaidosa
ciscando e mostrando
como quem sabe
a vida
pros pintinhos


a menina sonha


a menina sonha
sem fronha
flutua
no espaço
dá piruetas
enche a terra
de margaridas


brinca
com o sol
recorta
o céu
faz carrossel
de borboletas


já cansada
de tanto sonhar
apronta o ninho
e adormece


no patamar


bailarina


esta menina
que balança
o corpo
que sente
no rosto
suave brisa


que desliza
pelo chão
co'as mãos
suspensas no ar


que sorri
toda feliz
toda feita
de filó


que flutua
feito pena
pequenina


é a menina
bailarina


bailando no ar

Nenhum comentário:

Postar um comentário