sábado, 28 de março de 2009

tons e entretons - poesia infantil - 1990

tons e entretons - poesia infantil - 1990
para thiago e camila
meus filhos



gente grande

GENTE GRANDE
é bicho bobo
PENSA em
PODER MANDAR

será que gente
grande nunca
se inventou
de brincar?

brinquedo demais

eu tenho
brinquedo demais
no meu coração
pra que os GRANDES
fiquem
o tempo todo
me cobrando
um dever
que nunca cumpriram

a primeira estrela

quando o sol
deita seus raios
atrás da montanha
eu fico esperando
a primeira estrela
pintar no céu
um desejo meu

relógio

os TIC-TACs do tempo
destruíram
meu TICinho de vida
TAC num aguento mais

sentimento improvisado

remendei
minha vida
com DUREX

recado

um bem-te-vi
cochichou
nos meus ouvidos
que a primavera
é o tempo mandando
um recado de flores

a respeito de bruxa

se a bruxa
não fosse tão boba
eu ia pedir
pra ela me emprestar
a sua vassoura
pra gente brincar
de cavalo-de-pau

calendário

hoje sol
amanhã lindo
segunda feia
terça indo
quarta alegre
quinta rindo
sexta parte
abrindo o céu

bola de gude

a birosca
s'enrosca
todinha
na mão
do menino
o TEC
faz TRAC
na certeza
do TOC

viveiro

papagaio praticava
piruetas no poleiro

o pavão todo pomposo
punha leque no traseiro

a arara tagarela
matracava fofoqueira

e a pomba rola enrolava
na garganta a sua voz

sem saber o que dizer

pato doido

Pato doido
Asa aberta
Todo senhor de si
Olhando assenhorado
O ovo da avestruz
Teimou que era dele
Avestruz brincando disse:
Pare de palhaçada pato
o ovo é do bem-te-vi

tartaruga

tartaruga
é bicho lerdo
lentidão contida
casco
curiosa e vagarosa
na sua roupinha
de cuia

panorama

uma formiga fazia festa
farfalhando entre folhas

um beija-flor bem bicudo
distribuía seus beijos

uma borboleta bonita
bailava por sobre as belas

e no vento azul do longe
o sol que nem papagaio

com rabiolas de raios
se empinava tão lindo

encantamento

coisa mais bonita de bela
é o céu beijando o mar

com seu colar de arco-íris
feito linha de bordar

quando as cores transbordando
da agulha do encantado

aprontam um tecido macio
e o vento espana a chuva

pra passarinho brincar

chicotinho queimado

uma cobra coral escorria
toda banhada em cores
escorregando escondida
espiando os arredores
feito criança que brinca
atenta aos pormenores

e o céu todo cismado
azul de tanto pensar
vasculhava na gaveta
das nuvens pra encontrar
as cores do arco-íris
que alguém pegou pra brincar

ele & ela

depois de brilhar tanto
durante o dia adoidado
o sol bastante cansado
recolhe atrás da montanha
o seu destino de raios

vestindo o seu vestido
de estrelas pontilhado
a noite de decotado
se enfeita com o broche
iluminado da lua

estrelinhas
"releitura do texto
de martha maria martins"

debruçado na muralha
do forte em frente ao mar
em noite de lua cheia
toda cheia de brilhar

no céu eu vi estrelinhas
pontilhando luz no ar

no mar eu vi as mesminhas
estrelas a balançar

são do céu estas estrelas
que pontilham luz no ar
e as que balançam na água
são as estrelas do mar

inverno

são pedro
de ano em ano
abre seu congelador
e joga na terra um frio
que por muito tempo guardou

o céu tremendo de frio
s'embrulha de cobertor
azul todo de anil
tecido pelo senhor

e o sol todo gripado
espirrando onde for
enrola no seu pescoço
de raios um cachecol

contra-tempo

o céu
não sei porquê
fechou cara
fez trovão
cuspiu fogo
enraivecido
mijou de pirraça
na terra

barco de papel

jornal dobrado
coração partindo
na correnteza
a letra sai
remando chuva

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