beré lucas - 1987
para thiago e camila
meus filhos

era um pedaço de tábua
miuda calada num canto
triste no seu quadrado
toda pintada de branco
era um baita dum pai
todo menino por dentro
procurando na madeira
o que há de movimento
pra brincadeira do filho
era um pedaço de tábua
miuda calada num canto
era um baita dum pai
todo menino por dentro
procurando na madeira
o que há de movimento
pra brincadeira do filho
o pai que era um baita
(menino todo por dentro)
espiando tantas formas
pra certo divertimento
escolheu entre muitas
a tábua pintada de branco
desse encontro de repente
pra tanto contentamento
entra em cena o serrote
contornando com seus dentes
no quadrado da madeira
forma outra de invento
encostado o serrote
surge outro envolvimento
da lixa lixando leve
cuidadosa no contento
de aparar as arestas
deixadas pelo serrote
que na pressa do corte
deixou algumas ranhuras
no galope do pincel
do pêlo pintando fino
o pai que era um baita
mais se sentia menino
e no contorno do criado
a tinta ia fluindo
colorindo a criação
o pai já não é mais baita
em tudo só é menino
vai à cozinha e rouba
daquela de pêlo fino
o pau chamado de cabo
da coitada da vassoura
todo pintado de branco
não pro que antes servia
o cabo se presta a outro
serviço de fantasia
enquanto o tempo enxugava
a tinta da fantasia
o pai teceu um cabresto
que traz como serventia
as rédeas do encantado
o menino que dormia
agora se encontra acordado
e vendo o cavalo prontinho
se derrama de alegria
e no cavalo de pau
com seu galope de mel
atrelou-se o menino
pra primeira caminhada
um tempo outro se fez
no lombo do encantado
do filho trotando alegre
no seu embalo menino
de cavalinho de pau
Nenhum comentário:
Postar um comentário