sábado, 7 de março de 2009

VIA SANGRADA UMA VERSÃO DA VIA SACRA

VIA SANGRADA: UMA VERSÃO DA VIA SACRA - 2003
Beré Lucas


Acorda meu povo acorda
Pra minha história escutar
O meu canto é meu lamento
De dor vestido ele está

Acorda meu povo acorda
Pra escutar meu lamento
Minha história é de verdade
Provo tudo, não invento

1º) Condenação

Na bacia desta história
Muita água vai sujar
Muitos lavam suas mãos
Outros mais vão pilatar

Entre o bem e o mal
Não tendo como julgar
A omissão toma conta
Se ausenta de avaliar

Entre Jesus Cristo
E o ladrão Barrabás
Entre o povo oprimido
Os que andam a explorar

A gente faz vista grossa
Faz de conta não olhar
E é conivente com tudo
Postura não devemos tomar

Purgando a alma

"Que devo fazer deste homem"
Foi Pilatos perguntar
Que devemos fazer nessa vida
Nos pomos a indagar

Muitas vezes nessa vida
Sem posição tomar
Atiramos os outros na arena
Pra multidão devorar

Se assim foi com Cristo
Com nosso irmão fazemos par
Jogamos ele na arena
Pra multidão devorar

Se assim foi com Cristo
Fazemos com nosso irmão
Jogamos ele na arena
E expurgamos o coração

Pedras em telhado de vidro

Sem mesmo encontrar culpa
Nós criamos condenados
E assim como Pilatos
Flagelamos nossos culpados

Uma coroa de espinho
Pela lei toda amparada
Vira nossa própria lei
De sangue toda banhada

E mesmo não sendo culpado
Crucificamos nosso irmão
Pregar o outro na cruz
Lava nossa própria mão

Maria vai com as outras

Às vezes condenamos os outros
Sem mesmo saber por quê
Condenamos porque condenamos
Tudo por bel prazer

E o pior é quando
Conchavamos com o poder
Massacramos nosso próximo
Com medo de sempre perder

Tantos inocentes como Cristo
Vieram a padecer
Por nossa omissão
Por termos medo de perder

2º) O peso da cruz

"O que escrevi está escrito"
Sentenciou Pilatos
O que fizemos está feito
Endossa os nossos atos

Ao condenar nosso irmão
Fazemos que nem Pilatos
E entregamos aos outros a cruz
Simplesmente por estarmos fartos

E a inscrição que escrevemos
É que nos condena de fato
Agimos com egoísmo
Por isso somos tão parvos

3º) Primeira queda

Sempre há uma primeira vez
No caminha dessa estrada
Em que caímos sozinhos
Não podendo apoiar em nada

E nos atiramos no chão
Nessa louca empreitada
Que há sempre uma queda
Que nunca é esperada

4º) Jesus encontra a mãe

Com o coração partido
Os olhos banhados de pranto
Quando menos esperamos
A mão vem ao encontro

Que mãe é coisa sagrada
Faz das tripas coração
Enfrenta tudo no mundo
Pra poder nos dar a mão

E assim como Maria
Senhora mãe de Jesus
No mundo tem tantas Marias
Carregando a sua cruz

5º) Cirineu

Em direção ao calvário
Carregamos nossa cruz
Drama cruel de viver
Onde não impera luz

Mas que repente
Naquilo que não reduz
Aparece um Cirineu
Amigo que nos conduz

E alivia o peso
Da cruz que carregamos
Esse é um grande amigo
Naquilo que acreditamos

6º) Verônica

No caminho dessa vida
Por sofrimento marcada
Há sempre uma pessoa
De forma consternada

A enxugar nosso rosto
De sangue e suor banhado
Onde imprimimos nosso rosto
De forma sofrida e truncada

7º) Segunda queda

Se caímos uma primeira vez
Por certo pode acontecer
Cairmos uma segunda vez
Nessa vida de sofrer

8º) Consola as mulheres

Se às vezes encontramos
Mulheres tão consternadas
A lamentar nossa dor
No caminho dessa estrada

Não devemos nos complacer
Sem perder nosso brio
Pois dói mais que a nossa dor
A dor de um outro filho

9º) Terceira queda

Onde não há justiça
O ódio vai imperar
E o cansaço toma conta
Não tem como aguentar

Que o peso da cruz
Vai nos arremessar
Pelo chão dessa vida
Sem ter como levantar

10º) Despido das vestes


Se quisermos humilhar um homem
Expô-lo de forma vulgar
É só despí-lo das vestes
Pras chagas logo brotarem

Feito que nem Jesus
Nos sentimos humilhados
Pelados em tudo na vida
Pelos que nos tem trucidado

11º) Pregado na cruz

Estendido sobre o lenho
No calvário dessa vida
Às vezes crucificamos
De forma não permitida

O nosso próprio irmão
E pra alívio da alma
Martelamos longos pregos
Sem um pingo de mágoa

12º) Morte na cruz

Às vezes suspiramos
Não por alívio encontrado
Mas porque nossa alma cansada
Vai aos poucos se apartando

Do corpo todo cansado
De tanta flagelação
E assim como Jesus
Expiramos corações

13º) A descida

Entre dois ladrões
O Cristo crucificado
Por José de Arimatéia
Teve o corpo confiscado

Descido da cruz sem vida
O corpo todo flagelado
Foi abraçado pela mãe
E com um beijo de dor selado

14º) O sepultamento

Envolto em lençol limpo
O corpo do pobre coitado
Foi cuidadosamente lavado
Pra então ser sepultado

Enterrado o corpo
Em seguida foi velado
Sob uma pedra jaz o Cristo
Sobre o Cristo o pecado

15º) Ressurreição

Na nossa vida diária
Quando está tudo acabado
Ressurgimos das cinzas
De maneira renovada

Assim foi com Jesus
Que ressurgiu após a morte
Um vivo entre os mortos
Que nos indica um norte

E que em meio à miséria
Injustiça dor e sorte
Miremos nesse Jesus
E nos façamos mais fortes

Que nesse mundo cruel
Onde sempre impera a injustiça
Devemos unir as mãos
Naquilo que nos atiça:

Que a verdade entre nós
Mesmo correndo o risco
Seja sempre nossa meta
Como a verdade de Cristo

E que a justiça entre os homens
Venha sempre a brilhar
E liberte todos os povos
Onde a paz irá reinar.

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