sábado, 4 de julho de 2009

o dado doido do duda - 1978

o dado doido do duda - 1978
(análise do poema)




o dado doido do duda
feito pra só letrar
gira feito doido
adoidado

E aqui
U acolá
tropeça no I
escorrega no A

e se esconde no O


1. O título do poema faz referência a um brinquedo muito comum
entre as crianças: dado (sm. Peça cúbica marcada em cada uma das
faces com pontos de 1 a 6, usada em certos jogos; geralmente o
dado pode ser de plástico, madeira, osso, etc.).

2. O dado do poema é doido: doido (extravagante, arrebatado).

3. Duda: apelido carinhoso e afetivo atribuído a uma criança.

4. Intencionalmente tivemos o cuidado de fazer uso da aliteração
(repetição da mesma consoante d), para alcançarmos o efeito de
musicalidade e da assonância (repetição das vogais a e o), para
conseguirmos este mesmo efeito, no título do poema.

5. A repetição do título no primeiro verso do poema, reforça a
intencionalidade de aliteração e assonância, reforçando ainda mais
a idéia de musicalidade do poema.

6. O dado foi feito pra só letrar (só dar letras) e não para soletrar
(v.t.d. 1. Ler pronunciando separadamente as letras e juntando-as em
sílabas. 2. Ler devagar ou em partes. 3. Ler por alto; ler mal.).

7. O dado gira (v.int. 1. Andar em roda ou em giro. 2.
Andar de um lado para outro. 3. Circular.) feito doido,
ou seja, este dado se movimenta de maneira arrebatada,
sem regras de direção pré estabelecidas. O dado age
feito uma criança.

8. adoidado (adj. Meio doido; amalucado). Tal qual uma criança,
o dado pratica suas peripécias, sem uma lógica comum entre os
adultos, lógica previsível.

9. (dar v.t.d. 1. Presentear, doar. 2. Conceder; oferecer.)
E aqui. Essa ação do dado reforça a intencionalidade de presença
constante da criança enquanto ser, leia-se: eu sou, tu és, ele ou ela
(criança) é.

10. U acolá (adv. 1. Em lugar afastado de quem fala e da
pessoa com quem se fala; lá longe. 2. Para aquele lugar; para
mais adiante.). Assim como a criança, o dado se desloca sem
previsão nos mais variados espaços, desobedecendo a lógica
do ficar quieto dos adultos.

11. tropeça (tropeçar v.t.i. 1. Dar com pé involuntariamente.
2. Encontrar empecilho inesperado) no I. A vogal i assume
visualmente este obstáculo. O dado, como a criança, vive
tropeçando nas coisas da casa e da vida.

12. escorrega (v.int. 1. Deslizar com o próprio peso; resvalar.
2. Ser escorregadio.). no A. Visualmente a vogal a nos remete
a forma do brinquedo escorregador, tão apreciado pela criança.

13. e se esconde (esconder v.t.d. 1. Por em lugar oculto; ocultar.
2. Não revelar. 3. Disfarçar.) no o. Visualmente o o nos remete a
um buraco ou esconderijo, onde a criança se esconde, após aprontar
as suas peripécias.

14. Os verbos usados no poema (fazer, letrar, dar, tropeçar,
escorregar e esconder) são pertinentes e constantes na vida de
uma criança.

15. Observamos que este dado, ao contrário do dado geométrico,
é doido, porque ele só possui cinco lados e é fruto da imaginação
poética. A confecção deste dado, no mundo real, é impossível.

16. Para reforçar o aspecto lúdico do poema, que não tem intenção
nenhuma de alfabetizar, carnavalizamos a ordem do A E I O U.
Vejamos: No poema a ordem subvertida é E U I A O.

17. Finalizando. No nosso entender a poesia, para a criança, deve
estar carregada de uma forte musicalidade e ludismo. Caso contrário
a poesia para a criança perde a sua função social, se estiver voltada
para aspectos dogmáticos, patrióticos, moralistas e comportamental.
Neste poema o recurso de humanização aumenta a carga poética do
texto, pois ficamos sem saber se o dado é o duda, ou se o duda é o dado.
O que observamos é uma simbiose entre o brinquedo e o menino, e o
menino e o brinquedo.

Um comentário:

  1. Tio , que bom encontrar vc aqui na net
    Resolvi pesquisar pra ver se achava o "meu" poema e não é que encontrei rs
    Saudades daquele tempo
    Abraço !
    Duda

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