sábado, 4 de julho de 2009

antologia poética - 1986

antologia poética - 1986







brevemente

quando chegar setembro
e o nosso estade de espírito
se vestir de verde
um sabiá azul
trinando canções
alargará o céu
do nosso peito

quando chegar setembro
um sol gostoso
de jeitinho quente
com flores sendo
plantará em nós
todos os humanos
sabor de primavera

senso de propriedade

todo louco anda
com um saco
nas costas
espiando um azul ...

toma isso dele
e ele vira bicho

constatação

o amor é uma mata
....... misteriosa
......... matreira
ausente de clareira
... (mordendo dentro)
........... sem rumo

relendo danti

.................... no meio
do caminho .............. desta vida
.................... me vi
.................... perdido
....... escura selva escura
.................. (solitário)
....... sem sol e sem saída

em tempo de adeus

1.
do mesmo mal
eu já passei
confesso
que a dor é tanta
e anda em tudo
nos mordendo
cega

2.
afeito à perda
já não me dói
a tua lida
que a solidão
me cicatriza
as despedidas
que foram tantas
no compasso dessa vida

afeito à perda
só me deixa
a tua ida
um lembrar-te sempre
pelo resto dessa vida
e terno ser
pra com você
na despedida

cartão de visita

bom jesus
é uma saudade
(dupla)
espiando do cemitério
minha chegada

navegar me faz preciso

náufrago de amor
te espio: ......... cais

de caso arrumado
seu barco chegando

fazia tempo qu'eu não velejava
pra tanto encontro

aportar-me em ti
é prosseguir viagem

filin barroso

a mesma mão
que sangrava um boi
tinha a leveza
de empinar papagaios

displicência

a displicência de tempo
é um homem
(velho menino)
correndo atrás da vida
com meu tambor
(de plástico)
para engrossar a fileira
dos que ainda
(por incrível que pareça)
sonham...

cantiga de amigo

oh rio que corre manso
sem ter pressa de chegar
se meu amor avistar
fale com ele por mim

diga a ele que muito amo
e por ele estou assim

oh rio que corre indo
pra desaguar no mar
se meu amor encontrar
fale com ele por mim

diga a ele que muito amo
e por ele estou assim

oh rio que corre lindo
para todo se encantar
se com meu amor conversar
fale com ele por mim

diga a ele que muito amo
e por ele estou no fim

cantiga de amor

senhor minha senhor
que dor eu sinto em meu peito
triste assim e tão sem jeito
despresado e apartado
sozinho sem seu amor

e esteja onde eu for
essa dor anda comigo

senhor minha senhor
essa dor dentro da alma
já engoliu minha calma
despresado e apartado
sozinho sem seu amor

e esteja onde eu for
essa dor anda comigo

senhor minha senhor
essa dor desatinada
é ferida desdobrada
despresado e apartado
sozinho sem seu amor

e esteja onde eu for
essa dor anda comigo

motivo

a você mulher
me entrego inteiro
tão doce e livremente
que até me assusta
(e me faz contente)
este gosto de doação
ante a sua recusa

por você mulher
me abrando em tudo
(leve de palavras
transparente)
que de repende
a sua ausência
se torna referência
e se presentifica
na distância

em tempo de primavera

quando a água escorrega
macio pela montanha
e faz um friso cristalino

lá de cima bem no alto
escancarando a cara
pela janela do céu
o sol gargalha feliz
que nem menino grandão

quando as flores
das cores mais colorids
encantadas com setembro
colorem o tempo

lá do bem alto de cima
um papagaio azulado
ensaia pelo menino
e participa inteirinho
deste encanto encantado

detalhes

esse copo vazio
(sobre a mesa)
de suco de laranja
(que você não lavou)
está cheio
transbordando
de saudade de você

esses farelos
(sobre o chão)
de torradas
(que você não varreu)
estão pedindo
implorando
pra sermos ser

saudade

!ecoam passos na memória":

meu pai na bigorna
temperando bonito

minha mãe na cozinha
tangendo encanto

e eu nisso

muito e a propósito

do mesmo prato
já comi
(faz tempo)
de tempero eu sei
de C O R

......... A Ç Ã O

ruminar
não vale a pena
deixa com os bois
que eles babam

a vida é mais além

barulho de uma pétala caindo

a roseira
mordida pelo tempo
ah!
tirou
uma

ta
la
no chão

e ninguém ouviu
este estrondo
(dentro do meu peito)

intensamente

te gosto
te gosto manso
bem macio
de leve
brandamente

te quero
te quero em tudo
todo seu
te querendo
toda

suspeito que
havia uma brecha
( ) no meu peito

dialeticamente

calo por enquanto o meu canto
que a espera é palavra dolorida
feito rosa murchada pelo tempo
no advento adverso desta vida

calo porque falo dessa espera
que a sequela de dúvidas se reveste
quando do canteiro que era flor
pressinto no que sinto só cipreste

e se revertido o cipreste voltar flor
deste canteiro não mais ele nutrirá
que o cripreste é flor tardia
bem mais breve do que o dia que virá

algumas considerações

. mais além mais além mais além mais além ..

................................ (e eu
................................ aqui
................................ parado
................................ aportado
................................ em minas
................................ espiando
................................ o mar)

pai e mãe

o fole do meu pai
tinha um acabamento
todo seu

e é no arremate
desse sopro
qu'eu me perco

a comida da minha mãe
tinha um gosto
todo dela

e é no tempero
desse prato
qu'eu me encontro

ver de boi

quem nunca amou
ignora o pasto
que engorda um boi

mesmo sabendo
que pra ser pra corte
seu cangote foi

sem título I

o barroco
é a bissetriz da indecisão

é deus e o diabo
comendo
(na mesma mesa)
o prato servido pelo homem

é a pedra sabão
enganando o tempo

é um cinzel doído
cravando na vida
um gosto de morte

há muito eu me proponho e tu me negas

que se de brincadeira
a intensão vestisse
seu manto desligado
e sem compromisso

como explicar mulher
teu gesto omisso
que em tudo te resvala
de ser comigo

que outra proposta
haver podia
se não fosse o seu
sempre correr do risco

quando do peito
borbulhando lindo
meus olhos te falam
muito mais que isso

propósito I

quando se ama
entre dois (elos)
se arma corrente

as datas se tornam importantes
e os corpos
mais uno(ficados)

quando se ama
entre dois (eles)
a palavra muda
entende mais

e os olhos
além de chama
contaminam
muito mais

além

propósito II




vasto vago nessa vassalagem
que ao amor eu sempre fui prestante
inteiro nessa busca incessante
desafiando a fundo esse mistério

que de cantar não me canso nessa vida
que de encanto o meu canto se reveste
e quanto mais lindo ele se tece
mais forte se faz esse meu cantar

e vou seguindo afora nessa lida
pelejando pelo gosto de cantar
porque de um homem não se rouba tudo
quando de azul ele encharcado está

essa dor

essa dor tão doída
depressa sem despedida
cravou no meu coração
............ e ainda peço perdão

essa dor desatinada
de feridas machucadas
............ e ainda peço perdão

essa dor desbaratada
mordendo feito lambada
chaga viva endiabrada
............ e ainda peço perdão

de pai pra filho

o amor
é feito o bandolim
do meu pai

em bom jesus
na casa
do mário da rumana
todas as noites
( infalivelmente )
entre amigos
ele tocava sempre

um dia (não sei porquê)
meu pai perdeu o gosto
e deixou o bandolim
mudo
(de propósito?)
numa canastra antiga
pros ratos roerem

fizeram-se dois buracos

coisas do mundo

o que acontece
em januária

o que acontece
no lua nova

não acontece
neste mundo

do céu
deus lava as mãos

na terra
o capeta adia viagem

sem título II


que seja eterno
o momento do encontro

que seja eterno
o instante dos olhos

que seja eterno
o atar das mãos

que seja eterno
o encontrar dos lábios

que seja eterno
o nu das carnes

que seja eterno
o grunhido das falas

que seja eterno
o gozo profundo

que seja eterno
essa sede de amor

para todo sempre

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