
trilhos
se de vitória
o nome trago
por escrito
de luz
meu sobre-nome
só transbrilha
mas na verdade
nada disso acontece
que de perdedor
em tudo opaco
são os meus trilhos
ainda se marcam os gados
quem já sentiu a dor do amor
traz lesado em profundo o coração
é proção reservada nessa vida
liga pouco e retrai na intenção
quem já do amor marcado foi
em pêlo vivo sempre será
a cicatriz do ferro visgo
mordendo dentro da solidão
quem já remédios procurou
pra ter alívio desse fogo
engana a brasa mas a chama
- que vive acessa - engana não
gauche
um passarinho cagou
no meu peito:
em erva-daninha
seu canto teceu
uma rede
me emaranhando
pelos lados todos todos
um passarinho cagou
na memória:
em erva-daninha
(por experiência)
sua merda
é uma mangueira
miúda de fruta
complicada de limpar
novo dia
quem do sol a luz
sorveu um dia
não pode à treva
se atrelar
que a esperança
se reveste de morteiro
lançando além do peito
o esperar
que por mais que prolongada
seja essa hora
feito fera rosnando
no seu dentro
quem do sol a luz
sorveu um dia
põe na espera
o encontro do momento
van gogh
nas entranhas
do existencial
van gog
mamou
e viu
que o esgoto
fala mais alto
por imposição de lei
estrela inútil
alta e fria uma estrela
eu nunca vi luzindo
no meu dia-a-dia
tão alta tão fria
(sozinha)
uma estrela deve ser
longe dos meus olhos
sem a minha companhia
(distante)
uma estrela é solidão
num céu inútil de cor
sombra profunda ausente
uma estrela é nada
perante ao que não espio
memória
eu nasci quando
minha mãe
cansada
de tanto parir filhos
raspou no tacho
(das entranhas)
minha existência
uma luz pálida
cheirando a V I C K
me ninava na cama
sem respiração
a minha insônia
vontade de poder dormir...
primavera
suspeitam que as flores
durante os meses
todos
se reservam
e se aprontam
lindas
pra setembro
eu confirmo
germinação
quando o sol
trepa na terra
feito um garanhão
grávidos de setembro
os canteiros
parem flores
permanência
uma estrela nunca
............ cai
cintila sempre
R O C H A
a poesia brsileira
está necessitada
de uma dose
de sal
D E G L A U B E R
amor não se negocia
amor não se negocia
que o amor não tece preço
é o inverso do avesso
naquilo que então se fia
se negociado o amor
pelo preço então tecido
o inverso do avesso
deixa de ser pelo sido
conceito
a saudade
é uma chave-de-fenda
arrochando
um parafuso
(dentro)
do meu peito
panorama
(a propósito de sinestesia)
um vento fogoso
fazia farfalhar as folhas
que de verde tiniam
ao sol da manhã
pra ser só brilho
estalando nos olhos
matálica aurora
de frio o orvalho
se vestia de gota
roubando das rosas
um cheiro macio
de pétala gostosa
feito em sabor de primavera
escancarando da boca
envolvendo a todos
nos sentidos da vida
cantiga de amor
debruço meu coração
no que me arrisco
amando a ti
submisso e atrelado
feito um vassalo
que o tempo por média
não traz idade
debruço meu coração
no que me insisto
amando a ti
feito um refrão pisado
mas de cantoria revestido
que o amor só por si
é mais que um fardo
distância
linda
tu te alargas deste azul
feito um mar
(misteriosamente)
decorado pelo trigo
e eu navegante
no que persigo
sem norte
te espio
aqui do sul
poética
na dimensão da espera
sedimento meu canto
no exercício sempre
amadureço minha poesia
e de simplicidade vestido
me eternizo em palavras
F E C H A D O P R A B A L A N Ç O
(atrás da porta do peito
há um estoque de vida
empilhado
na prateleira do tempo
pedindo avaliação)
A B R I R E M O S B R E V E
lamento
(pra ailton e grupo de teatro kaquende)
acorda sabará acorda
pra essa história escutar
nosso canto é um lamento
em cada peito ele está
acorda cidade acorda
engrossa essa procissão
da vela velando "o velhas"
morrendo em nossas mãos
acorda sabará acorda
vem a fileira engrossar
derramando suas lágrimas
neste rio por secar
acorda cidade acorda
que a morte está chegando
batendo em suas portas
por um rio lamentando
acorda sabará acorda
vem com a gente chorar
que o rio das velhas agoniza
não pode mais esperar
dois tempos
quando eu era pequeno
(deitado no balcão
da loja do meu pai)
um céu bem próximo
me ditava lições de nuvens
eu tinha a sensação
de que subindo o morro
podia tocar o infinito
com a ponta do dedo
estando agora grande
(sentado na mesa
de um bar qualquer)
um céu ausente
não me ensina nada
e eu tenho o presentimento
de que aos poucos morro
com a ponta do dedo
escarafunchando o nariz
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