
quem é que?
quem é que tece o dia
se o sol não sabe tricô
e esse céu manta larga
azul quente de calor?
quem é que tinge a noite
se a lua não é pintor
e essa rotunda estrelada
brilhante capote de amor?
canção do exílio
oh! qu'eu não tenho saudade
da minha terra de agora
prefiro a outra de outrora:
onde tinha carambola
a gente jogava bola
e no rio podia nadar
ah! qu'eu não tenho saudade
dessa terra de hoje em dia
prefiro a outra que havia:
onde tinha fantasia
a gente inventava o dia
e menino podia sonhar
ai! que sou todo saudade
inverno
o vento vinha ventando
cantarolando assovio
e soprava tanto frio
que o rio de calafrio
se estreitou num corredor
atrás da montanha o sol
tadinho batendo seus dentes
se enrolava em raios quentes
que nem tal um indigente
se envolve num cobertor
meu pai
meu pai me acorda na noite
batendo na sua bigorna
fundindo metal no cadinho
tangendo na minha memória
meu pai me acorda na noite
tecendo um tempo sem fio
de quando eu era menino
vivendo as coisas qu'eu era
meu pai me acorda na noite
e eu fico me dividindo
entre o presente e o passado
a vida passando a limpo
poema para uma mulher aparentemente magra
a tua beleza mulher
se faz em carne esculpida
em tudo sob medida
sem exagero qualquer
és mulher exatamente
como deverias ser:
pelo de jambo macia
pequenos seios dourados
e esse seu jeito de fêmea
que me deixa transtornado
já faz tempo
já faz tempo
um menino atirado
mudou o passo do trato
arrancou o seu sapato
e saiu descalço no mundo
não faz muito
um homem ousado
se vestiu de menino
e saiu sem destino
pelo caminho tramado
não se faz
um ousado menino
nem um homem atirado
que dão banana pra tudo
e se inventa
sozinhos
filosofia
saber é sabor
sabor é saber
tia miquita
(na sua simplicidade)
fazia isso sempre
na palma da mão
provando as pessoas
espiando as panelas
se nego
se nego aquilo em que me retrato
no quem me retrato em tudo eu me vejo
sou feito cego carente de luz
sou luz apagada acendendo cego
o meu desejo se desfaz em querer
e quando tenho tudo eu nego
sou chama apagada rescendendo fogo
sou fogo aceso apagando velas
o tempo
o tempo com o seu fio
vai fiando o seu tecido
de lembranças colorindo
o menino qu'eu era
já não era sem tempo
que o tempo tricotando
meus cabelos vai pintando
de paina no travesseiro
meu thiago já é moço
aos poucos o menino
vai crescendo e dividindo
a tua beleza
a tua beleza mulher
tem qualquer coisa que mata
é feito o gume da faca
cortando dentro do peito
e eu assim tão sem jeito
na condição de ferido
me entrego inteiro e perdido
de bandeja e de colher
a tua beleza mulher
chega a ser estonteante
e desse modo e doravante
se atira feito uma pedra
que aos poucos se engedro
na vidraça da janela
e nisso o que mais me ferra
é em seu caco (dividido) vidro
remanso
....................... o rio faz
meia volta
.................. e segue
.................. de novo o seu curso
máximas
a igreja é a toa
eu sou ateu
e deus nem mais existe
um anjo esquerdo
falou pra mim
que deus
sempre foi da direita
não inocento
não inocento a manhã
com seu tecido de orvalho
tão pouco incrimino o dia
com seu espaço de luz
o que faço faz jus:
que a manhã inocentada
é cumplicidade que entrava
o processo de viver
incriminar o dia
na desvalia do espaço
é como tecer o meu rastro
perante o fugir da manhã
amor antigo
... havia um rastro de luz
onde (?) hoje há escuridão...
cerração
a manhã com seu tecido
de filó todo ensopado
de orvalho neblinando
o para-brisa da vida
lembrança
a saudade é o tempo
desfazendo o tricotado
mais além
a linha da fantasia
diluída no infinito
empina um sol bonito
de amarelo tecido
e o menino cá da terra
rabiolando vontade
se embala na maravilha
e com o sol faz a partilha
desse universo encantando
a tua beleza mulher
a tua beleza mulher
é feito um campo de trigo
dourado onde me abrigo
e sacio a minha sede
a tua beleza mulher
tem qualquer coisa que mata
é pele gostosa que farta
minha gula meu desejo
a tua beleza mulher
é feito manhã clareada
caminho sem fim - louca estrada
me convidando ao passeio
a tua beleza mulher
é porto dos meus anseios
é da mina doido veio
de ouro que nunca me basta
era uma vez...
- cadê as matas
que verdejavam floridas?
. o machado cortou!
- cadê do céu o azul
que transparecia lindo?
. a fumaça tapou!
- cadê o cristalino do rio
que corria indo?
. o garimpo estancou!
- cadê o passarinho
que bonito cantava?
. a gaiola calou!
- cadê o homem
que vivia aqui?
. nem rastro deixou!
passarinho apressado
passarinho apressado
pequeno coisa de nada
cismou de cantar bonito
mas piou desafinado
apressado passarinho
de penas pouco abastado
inventou de voar alto
mas no chão foi atirado
vê se aprende passarinho
com o tempo esperar
não sejas tão afobado
que seu dia vai chegar
de tanque & tempo
minha mãe no tempo
é uma distância no tanque
enquanto nossas vidas
eram alvejadas com céu
sob o anil da infância
nossa roupas miúdas
no varal da manhã
se encharcavam de sol
minha mãe no tanque
é uma presença no tempo
o amor mudou de casa
"amar é mudar a alma de casa"
.............................. mário quintana
o amor mudou de casa
não deixou nada pra trás
nem retrato de lembrança
nem uma lerda esperança
o amor mudou de casa
o amor mudou de casa
pra nunca mais voltar
não deixou nenum bilhete
esqueceu-se do endereço
nem adeus ele acenou
o amor mudou de casa
o amor mudou de casa
foi morar noutro lugar
onde não alcança a vista
sumiu sem deixar pista
e não se pode encontrar
o amor mudou de cara
poema para o dia dos namorados
o amor não tem dia
nem hora pode esperar
ele em tudo é sem limite
é estrada por trilhar
como pode amor ter dia
se amor não tem lugar
e por mais que o limitem
elos há de arrebentar
bem dito seja o amor
ai esse gosto de amar
que se instala em cada peito
se inventando de inventar
poema erótico
a tua boca mulher
nada tem de virginal
é de um pecado mortal
que endoida a gente
os teus cabelos mulher
te caindo pelo dorso
me deixam em alvoroço
me dá tesão
vontade de passar
minhas mãos pelos teus seios
sufocar-me nesse meio
senti-los inteiros na boca
das tuas entranhas mulher
me vem um cheiro gostoso
me convidando pro gozo
pra eu ser inteiro em ti
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