sábado, 14 de março de 2009






















Introdução

Nossa escola se encontra na região do aglomerado da Pedreira Prado Lopes - uma área de risco social, onde o tráfico de drogas é uma constante, e a briga entre gangues promove um ambiente em que impera a violência.
A condição sócio-econômica dos nossos alunos é bastante precária, tendo em vista que a maioria dos pais são profissionais liberais, do tipo: catadores de papel, pedreiros, serventes de pedreiros, diaristas, lavadores de carro, vendedores ambulantes etc. Isso, certamente, reflete no nível de aspiração dos nossos estudantes.
Observamos que, culturalmente, nossos alunos são marcados por uma aspiração de consumo, ditado pelos de comunicação de massa. Tanto isso é verdade que eles possuem celular da moda, os mais sofisticados tênis, o incrementado MP3, etc. Raramente, encontramos um de nossos alunos interessados em literatura, teatro, música de qualidade, ou mesmo, preocupados com questões mais sérias: ecologia, meio ambiente, política, etc.
A sexualidade banal, a todo o momento é vivenciada por eles, de uma forma cotidiana e supérflua. Vale lembrar que adolescentes entre 12 e 14 anos já tiveram experiência sexual e uma grande quantidade possui filhos.
Diante disso, a nossa escola tenta desenvolver projetos, na tentativa de minimizar este quadro. Dentre os vários projetos que a escola administra, o “Escola Viva-Comunidade Ativa” e o “ Aluno de Tempo Integral” oferecem opções para que nosso alunos, através da dança, teatro, capoeira e dança de rua, possam ter oportunidades para alargar seus horizontes.
A escola, na tentativa de criar uma parceria com a comunidade, administra, também, cursos alternativos, para melhorar a qualidade de vida das pessoas de Terceira Idade: dança de salão, yoga, fisioterapia e ginástica. Ainda tentando instrumentalizar, profissionalmente, os pais dos alunos, são oferecidos cursos profissionalizantes, em parceria com a Suvinil: pintura texturizada, assentamento de azulejo e cerâmica.
Desta forma, esperamos contribuir para que, através de uma melhoria na expectativa de vida, essas pessoas (pais, alunos e comunidade) possam vir a ter maior consciência e oportunidades sociais. Acreditamos que, agindo assim, nossos alunos tenham uma maior consciência dos perigos e envolvimentos do uso das drogas.
Por estarmos situados em uma área de risco, nossa metodologia de trabalho não abordará diretamente o termo DROGAS. Usaremos como estratégia a Promoção da Saúde Física e Mental dos Jovens e Adolescentes na Sociedade, a fim de evitar conflitos com traficantes etc.
Sabemos que o jovem de hoje vive uma realidade completamente diferente de tempos atrás. As constantes transformações tecnológicas e as relações de trabalho mudaram e afetaram o desempenho dos pais, alunos e educadores. Sendo assim, o papel da escola, a relação familiar e o desempenho dos educadores devem ser repensados e realizados tendo em vista estas transformações sócio-tecnológicas. Com isso, nós educadores, necessitamos ter uma nova postura, se quisermos enfrentar com competência essas dificuldades que se nos impõe.
É bem verdade que o adolescente enfrenta sérios problemas de identidade, auto-afirmação e aceitação no grupo social. É verdade, que esses jovens, em sua maioria, são discriminados não só pela faixa etária (são impetuosos, atrevidos, petulantes), como também pelo mercado de trabalho (não têm habilidades, são dispersos etc.).
As mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas trouxeram como conseqüência o deslocamento da escola como referência nas comunidades, tanto isso é verdade que a escola perdeu espaço no seu papel de gerenciamento do processo educativo e passou a ser um espaço alternativo para a comodidade dos pais, no sentido de que estes desempenham seus trabalhos, sabendo que os filhos podem estar protegidos.
Diante disso, a escola não desempenha seu verdadeiro papel de promotora do processo educacional plenamente. Educadores se esforçam para educar, alunos(as) têm dificuldade em desenvolver o conhecimento, e a ciranda da educação vai aprofundando suas debilidades.
Não bastassem essas mazelas, a escola se torna impotente diante de problemas como violência, drogas e preconceitos, pois os educadores não estão capacitados para assumir o papel de co-responsáveis nas ações de prevenção e proteção ao adolescente no tocante a esse assunto, uma vez que a estrutura oferecida pela secretaria de Estado da Educação é incipiente.
Temos consciência de que o Estatuto da Criança e do Adolescente trouxe importantes inovações na proteção da criança e do adolescente, reconceituando as relações socais e jurídicas da sociedade com essa faixa etária, por meio de medidas de proteção, sócio-educativa, defesa e direitos. Entretanto, observamos que o ECA, infelizmente, deixa muito a desejar: a teoria e a prática estão destoantes .
Portanto, faz-se necessário que a escola e comunidade repensem essa postura e criem outras dinâmicas para conviver/relacionar com esses “aborrecentes imediatistas”. É nesse período que o jovem passa por uma re-significação do ambiente e valores que o cercam, estabelecendo novos padrões que, na maioria das vezes, se confrontam com uma cultura social já pré-estabelecida, na qual se encontram figuras autoritárias, como pais, professores etc.
Nesse contexto, desenvolvem-se situações cujo risco de envolvimento com as drogas, como resposta ou fuga às angústias, dúvidas e necessidade de sua auto-afirmação, o deixam mais vulnerável ao uso de drogas.
Por isso, é importante que os educadores e familiares tenham consciência das peculiaridades da fase pela qual atravessa o jovem, a fim de distinguir comportamentos típicos dessa transição (rebeldia por exemplo) de um suposto envolvimento com drogas, o que vem a ser, sem dúvida, uma linha um tanto quanto tênue. Para fazer essa distinção, faz-se necessário maior preparo dos envolvidos por meio de ações como o presente projeto.


Objetivo Geral

Proporcionar maior integração entre escola e comunidade bem como instituições públicas e civis, tendo como finalidade maior eficácia na promoção da saúde física e mental, evitando o envolvimento com drogas.


Objetivos Específicos

Ø Resgatar dentro do espaço da escola/comunidade a sua especialidade articuladora de um
processo preventivo, buscando construir uma consciência dos riscos e implicações que os
jovens estão expostos ao se envolverem com as Drogas.
Ø Mobilizar escola/comunidade em torno do assunto, promovendo ações preventivas e
eficazes.
Ø Sensibilizar os órgãos públicos, através de parcerias, da necessidade e urgência de
implementar um projeto para a promoção da saúde física e mental dos nossos alunos
adolescente, a fim de proporcionar uma perspectiva de vida.
Ø Desenvolver atividade, educacionais e culturais para que os adolescentes resgatem sua
auto-estima e expectativa melhor de vida.
Ø Aproveitar os projetos da escola e implementar o projeto em questão naquilo que for
possível, somando esforços para a execução do projeto.

Metodologia

Do ponto de vista metodológico, é fundamental o desenvolvimento e abordagem por meio de atividades interdisciplinares nucleadas pela necessidade de ações preventivas, integrando matérias com envolvimento direto e indireto. Percebe-se, de imediato, que matérias como Biologia e Química podem oferecer uma grande contribuição para a prática do projeto, focando questões relacionadas à promoção da saúde, diagnosticando causas e efeitos sobre o corpo humano.
Contudo, é evidente a necessidade de um envolvimento amplo, abrangente e efetivo das disciplinas com abordagem social, como Sociologia, Filosofia, História, Geografia e Língua Portuguesa. Não ficando apenas a cargo da Biologia, Química e da Educação Física a função de tratar continuamente a promoção da saúde em busca de uma vida melhor. Ademais, é relevante, também, compreender histórica e socialmente a comunidade para a qual o projeto se volta.
O projeto tem como público-alvo os alunos da Escola Estadual Silviano Brandão e comunidade. Por se tratar de uma Escola pública localizada em uma área socialmente menos favorecida, basicamente contaremos com o envolvimento dos educadores idealizadores/realizadores do projeto, demais professores voluntários, lideres comunitários, ong’s e possíveis parceiros.
Para tanto, utilizaremos as dependências físicas da Escola (quadras, laboratórios, auditório, sala de vídeo, ginásio poliesportivo), bem como os recursos materiais disponíveis na Escola (DVD, vídeo, televisão, etc.).
Serão exibidos filmes abordando a temática, palestras com especialistas no assunto, bem como atividades esportivas, trabalhos com textos e músicas populares ligados ao assunto, trabalhos teatrais (jogos dramáticos, improvisações, expressão corporal, etc.), oficina de debate gerenciada pelos próprios alunos.
Inicialmente, o projeto possui perspectivas custo “zero”, devido à falta de condições financeiras do grupo envolvido. Contudo, objetivamos, através de parcerias, ampliar as fontes de financiamento para que o projeto atinja sua finalidade aquisição de material didático ilustrativo e para oficinas educativas, visitas a casas de recuperação etc.

Para a execução do projeto não será seguida uma temporalidade rígida, tendo em vista que ele é experimental. Dessa forma, optamos por dividi-lo em etapas que se complementarão, após processo avaliativo, visando melhor ajustamento entre uma etapa e outra.

Ø 1ª etapa: apresentação do projeto á direção e a associação de pais e mestres;
Ø 2ª etapa: apresentação do projeto a pais, alunos e comunidade;
Ø 3ª etapa: definição de responsabilidades e divisão de tarefas;
Ø 4ª etapa: estabelecimento de parcerias;
Ø 5ª etapa: confecção de um organograma do funcionamento do programa
(palestras, filmes, fases etc.);
Ø 6ª etapa: execução do projeto;
Ø 7ª etapa: avaliação final do projeto.


Considerações Finais

Observamos que nossos alunos (adolescentes) são realmente marcados pelo fantasma da insegurança. Tanto isso é verdade que, a todo o momento, somos abordados por eles, na tentativa de solucionarem problemas dos mais variados aspectos: menstruação, sexo, gravidez etc. Diante de tais situações, procuramos esclarecer, dentro do possível as suas dúvidas.
A insatisfação com a vida é, contudo, uma constante na vida dos alunos. Por serem de baixo poder aquisitivo e viverem em aglomerados, eles tentam suprir essa defasagem com a aquisição de produtos supérfluos, porém de grife: roupas, celulares, tênis, bonés. Notamos, ainda, que muitos dos nossos alunos, na tentativa de suplantar essas necessidades, lançam mão de artifícios bastante comuns: pintura, corte de cabelo e sobrancelhas, piercings, tatuagens.
Comumente, observamos que a utilização desses artifícios, na verdade, é uma tentativa de superar insatisfações pessoais, tais como: moradia e alimentação precária, dentição mal cuidada, alterações hormonais de um corpo em transformação etc.
Muitas vezes, constatamos que, em sala de aula, nossos alunos comentam que foram a determinados shows e fizeram uso de bebida alcoólica, cigarro e outros - uma busca do prazer, tão comum entre os adolescentes.
Pelo exposto acima, procuramos, dentro do possível, promover dentro da escola atividades que promovam a auto-estima dos nossos alunos através de atividades esportivas: campeonatos de vôlei, futsal, atletismo, queimada e basquete. Procuramos desenvolver na nossa escola, também, uma relação saudável, para que esses alunos adquiram vínculos positivos através de palestras, filmes, apresentações artísticas e culturais.
A participação dos pais, na nossa escola, é marcada pela omissão. Atribuímos esse fator a um problema tanto da direção quanto dos pais. Quando eles vêm à escola, é porque são chamados para resolver ou se inteirarem de problemas que envolvam seus filhos. Não podemos assegurar se determinados pais estão envolvidos no uso abusivo de drogas, pois não temos contato direto com eles. O que sabemos é que certos pais fazem uso do álcool e, segundo relato dos próprios alunos, está envolvido com outros tipos de drogas: crack, maconha e thiner. Vez ou outra, tomamos conhecimento que determinado pai ou irmão foi preso ou executado por estarem envolvidos com drogas.
Outras vezes, presenciamos pais que são chamados à escola se manifestam de uma maneira autoritária e agressiva, utilizando palavrões, ameaçando ou mesmo batendo nos seus filhos na frente de todos.
O comportamento dos nossos alunos, em sala de aula, reflete a falta de acompanhamento familiar (ausência dos pais na escola); a falta de regras sociais (sala suja e desrespeito ao mobiliário escolar); ausência de respeito ao colega (apelidos pejorativos, palavrões e agressões físicas).
Diante desse quadro, nos sentimos impotentes, todavia esperamos que, através desse projeto, possamos resgatar, com a ajuda dos nossos alunos, a presença mais efetiva dos pais para refletirmos e questionarmos esses fatores sociais de proteção.
Não podemos afirmar que o desempenho escolar de nossos alunos esteja relacionado diretamente com o uso de droga, uma vez que o índice de usuários na escola é o mínimo possível.
O que podemos assegurar é que nossos alunos adolescentes (pela própria faixa etária) estão mais voltados para as questões superficiais (modismos) do que para uma aprendizagem significativa.
Dentro do possível, tentamos na nossa escola, através de atividades esportivas e culturais, resgatar no aluno vínculos afetivos, realizações pessoais e a descoberta do prazer em aprender.
Pelo fato de a escola estar situada em uma área de risco, os nossos alunos convivem diariamente com a violência. Muitas vezes eles não vão à escola, por não poderem sair de casa devido a brigas entre gangues, que podem acabar em tiroteio.
As autoridades sociais (notadamente a polícia) têm seu papel desvalorizado e desrespeitado por representarem, para eles, mecanismo de violência e repressão. As instituições sociais, a não ser os postos de saúde, têm pouca representatividade para nossos adolescentes. Por falta de oportunidade de trabalho e lazer, essas instituições, a não ser o Conselho Tutelar, são desconhecidas por eles.
No nosso entender, deveria haver uma política social que promovesse na nossa comunidade um clima comunitário afetivo, um trabalho de mídia que desenvolvesse a consciência comunitária, mobilizando socialmente nosso aglomerado com informações efetivas sobre a droga e seus efeitos. Oportunidade de trabalho e lazer deveria ser uma das prioridades das autoridades competentes para que a proteção social fosse efetivada.
No nosso aglomerado, a compra da droga se manifesta às abertas. Em cada beco, a compra e venda de drogas se dá 24 horas por dia e parece que nada é feito pelas autoridades para dar um fim a esse processo. O engraçado é que, em muitas vezes, as próprias autoridades estão envolvidas.
A propaganda indiscriminada de bebidas alcoólicas e cigarros toma conta da mídia, incentivando os prazeres e vantagens do produto. A nosso ver, pouco é feito pelos órgãos governamentais para mostrar as conseqüências da utilização desses produtos. Não existe, por parte do governo, uma campanha efetiva, principalmente nas escolas, para contextualizar e informar nossos alunos da conseqüência do uso da droga.
Em meio a essas tentações e seduções, muitas vezes o jovem se sente obrigado a engajar-se a determinados modelos e estereótipos com o intuito de se auto-afirmar. Esses modelos, entretanto, nem sempre são a melhor escolha, mas fornecem a esse jovem uma pseudo-segurança, tendendo a se desvincular de outras redes mais significativas, como a família, comunidade, escola, trabalho.
Uma das formas de reverter esse quadro seria buscar uma aproximação junto ao adolescente por meio de diálogo, compreendendo o seu universo e seus valores, buscando uma re-significação das suas expectativas em relação à sua participação na sociedade e àquilo que esta espera dele.
Considerando as inquietações próprias dessa fase, há que se trabalhar a questão dos limites (que estão se perdendo diante das novas relações sociais impostas pela contemporaneidade) e a questão da autonomia por parte do aluno, estabelecendo uma relação entre ambas, sem que uma se sobreponha à outra.
Para tanto, deve-se levar em conta o resgate da autoridade dos pais e educadores, desde que esse conceito de autoridade seja rediscutido e recomposto de uma maneira transparente e democrática. Feito isso, o jovem se sentirá mais à vontade para manifestar as suas necessidades latentes e terá mais maturidade para aceitar tarefas que lhe são delegadas. Entendemos que, para se obter êxito na implantação do projeto em pauta, é essencial a participação efetiva dos alunos e comunidade, bem como a formação de multiplicadores, sejam eles alunos adolescentes.
Cientes da complexidade em formar tais agentes multiplicadores, num primeiro momento, tentaremos sensibilizar e motivar os mesmos a ‘abraçar’ a causa, fazendo não só com que compreendam melhor os riscos e as conseqüências do uso das drogas, mas também que se desperte nesses agentes o prazer e o compromisso de serem protagonistas de uma ação solidária na promoção da saúde.
Ações previamente planejadas, como reuniões, discussões de tarefas etc., buscando melhor integração ao grupo, favorece a vivência do adolescente multiplicador, promovendo, assim, a auto-sustentabilidade do projeto, uma vez que ele se sinta parte integrante do mesmo, compartilhando e disseminando idéias, experiências e ações. Por se tratar de um tema que requer conhecimento, responsabilidade, esclarecimento, a integração às disciplinas curriculares é indispensável, visto que é preciso que um projeto maior, ou seja, o projeto político pedagógico da escola contemple tal tema, promovendo uma sintonia com o projeto aqui proposto, ajudando, dessa forma, a nortear o processo educacional.
Em meio a todas as barreiras (preconceitos, mitos etc.) e dificuldades (falta de recursos, de interesse etc.), acreditamos na viabilidade da presente proposta, pois seus idealizadores estão imbuídos no mesmo propósito e no mesmo espírito de participação. Almejamos, por fim, que os demais envolvidos abracem o projeto, arregacem as mangas e possam suprir as nossas expectativas.


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