
1.
uma caldeira vista assim
só de viseira olhada
não conta o tempo comendo
não conta o suor escorrendo
não denuncia o bandido
nem o grito reprimido
esbugalhando nos olhos
por pirraça e picardia
desfazendo o inventado
desentranho da caldeira
o que está do outro lado:
se é destino traçado
o homem seu braço comido
sua força de trabalho
inteiro fazendo história
e rimo o quente metal
que me devora por dentro
com suor escorrido
no rosto de tanta gente
2.
labareda de fogo seu maçarico
não é só sua mão fazendo
é mais que bigorna
é memória de outros braços
tecido de sangue doído
tecendo os ruídos da história
desentranhada do tempo
3.
é do caldo dessa mão
que tiro toda magia
estorricada de fome
fabricando por mania
é do calo dessa mão
que tiro a fantasia
do meio desse inferno
sonhando por teimosia
4.
o destino de um homem
traçado em quente metal
traz os olhos da miséria
e da fome o visceral
o destino de um homem
traçado em quente metal
traz mordaça na garganta
e do cordeiro o leal
o destino de um homem
traçado em quente metal
traz o frio do inferno
as patas do capital
5.
esse cansaço vem de longe
vem de onde o tempo espia
espreitando na calada
o barulho da bigorna
esse cansaço vem de longe
de uma memória sem dia
batendo em porta errada
o destino de metal
6.
este som de metal
acocorado no ouvido
estampindo bala seca
de sonho subnutrido
canto doído lacrado
doendo doído por dentro
estourando nos ouvidos
seu barulho de cimento
7.
extraviado meu canto
em tudo é só compromisso
ato mão com a desgraça
mas não vivo só pra isso
que meu canto é desforra
tesão intenso contido
espreitando a sua hora
sua bocada seu grito
extraído da bigorna
nascido da própria mão
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