(segunda parte)

em busca de mim
em que espelho escondi
a máscara do tempo
se em meu rosto
só marcas existem
em que memória deixei
meu lerdo esquecimento
se no meu peito antigo
só carrego lembranças
em que espaço lancei
minha mão procurando
se em meu braço atrevido
só gestos se fazem
em que caminho ficou
meus passos perdidos
se em minha sina
só existe estrada
em que ponto infinito
se perdeu minha vista
se dos meus olhos aflitos
essa vontade de encontro
nunca se farta
juizo inicial
um dia
quando (após
tanta ignorância
os homens
se desfizeram
da aurora
sobre eles
implacavel
mente
descerá
as trevas
aí
tardia
mente
a luz que sempre
irradiou a poesia
eles compreenderão
amor
o tempo exato
a exata consciência
desse tempo
e a solidão
cravando meu peito
o seu punhal de ausência
terceiro tempo
meu coração
parece um campo vazio
de futebol
e eu que jamais
vesti camisa qualquer
me vejo obrigado
a calçar uma chuteira
esquerda de pé
meu coração
parece um campo
e eu que nunca
fui a estádio algum
me encontro forçado
a xingar no silêncio
o ausente juiz
meu coração
o filho qu'eu não tive
o filho qu'eu não tive
lateja dentro do ventre
e me dói pelas entranhas
o que nunca em mim vingou
no meu peito ressecado
o leite nunca bebido
é mais que um martírio
branco do que azedou
a ausência do seu choro
me estronda pelo ouvido
que esse silêncio oco
é mais forte que explosão
e o qu'eu tateio aflita
me devora toda inteira
me estraçalha completa
por esse vazio de mão
o filho qu'eu não tive
o filho qu'eu não tive
lateja no meu ventre
me dói pelas entranhas
o que não vingou
e no meu peito seco
o leite não bebido
é mais que um martírio
branco que azedou
a ausência do seu choro
me estronda no ouvido
que esse silêncio oco
é mais que explosão
e o qu'eu tateio aflita
me devora toda
me estraçalha inteira
o vazio da mão
canto maior
por ser linda mais que bela
tnto encanto só me encanta
mesmo sabendo entretanto
que todo esse meu canto
pra você é bagatela
por ser linda mais que bela
eu me sinto mais encantado
mesmo me sabendo deixado
num canto abandonado
tecendo o meu desengano
por ser linda mais que bela
meu canto se encontra cativo
mesmo me sabendo esquecido
pelos teus moucos ouvidos
que não se encantam com nada
o galo
seco de vez
o galo sem voz
rumina as notas
do seu desatino
como se fossem
cacos de vidro
rasgando por dentro
a sua solidão
releitura estética de "o canto do galo"
autor: eugênio montejo (venezuela) - tradução: sérgio faraco
o canto
está fora do galo
está caindo
gota a gota
entre seu corpo
agora
ele dorme
na árvore
cai
dentro da noite
não cessa de cair
entre suas veias
e sua asas
o canto
(irresistível)
está enchendo
o galo
como um cântaro
enche
sua penas
suas esporas
até que transborda
e soa imenso o grito
que no vasto mundo sem tréguas
............................................. se derrama
depois
as asas voltam
ao repouso
e o silêncio
se torna compacto
o canto
outra vez está fora
esparso na sombra do ar
dentro do (galo)
só vísceras e sonho
uma gota
que cai
na noite profunda
silenciosamente
ao tic-tac das estrelas
lembrança
o tempo entrelaçado
vem tecendo sempre
o seu lerdo tecido
matizado de passado
e essa manta antiga
(de memória carregada)
me pesa no peito
feito uma tonelada
égua
me dasarreia toda
me morde pela boca
como você quiser
deixei de ser mulher
sou sua égua mansa
: me entrego e não canso
me tenha pra valer
e nesse pertencer
me espora o coração
estou nas tuas mãos
agarra os meus cabelos
: eu me dou em pêlo
e para teu sossego
eu troto por amor
vem de manso
vem de manso
qu'eu sou branda
que nem brisa
que desliza
me sente inteira
a roçar
nos cabelos teus
feito a manhã
que clareia
eu persigo
este brilho
do teu sol
nos olhos meus
de volta em mim
de volta em mim
estando em mim
a saudade se estabelece
( profundamente ):
e o tom desmaiado do passado
aos poucos - lentamente
vai aclarando a transparência
de eu ter sido
de volta em mim
estando em mim
a saidade se estabelece
( perfeitamente ):
e o papagaio no vento
fura a seda do céu
enquanto a linha do tempo
se ata na carretilha
solidão cósmica
sem lua e sem estrelas
a escuridão da noite
rumina seu manto
negro de vestido
e o orvalho são
..... lágrimas
enganando pétalas
destrelado
destrelado da canga
rumino minha solidão
de homem extraviado
sem candieiro
sigo (só) o meu caminho
e a guiada no meu lombo
é uma cicatriz me lembrando
o meu destino de boi
a saudade
a saudade se veste de lembrança:
um cheiro macio floresce frutos
enquanto um doce sabor de abelhas
futrica o quintal do meu sonho
por detrás da cerca que divide o meu tempo
do alto da janela do meu passado
eu antecipo um céu pontilhado
de jaboticabas pretas
casca macia é o horizonte da minha infância
são joão del'rei - impressões
são joão del'rei
são casarões antigos
(assombrados):
janelas muitas
portas diversas
sacadas várias
o branco das paredes
carcomidos pelo vento
dá à cidade
um tom de mofo
secular cheirando
o desbotado azul
das portas e janelas
são trincados sonhos
encardidos pelo tempo
sobre cumeeiras
altas telhas vigilantes
se entrelaçam
religiosamente expostas
espiando o céu
à medida
que a gente vai passando
pelas estreitas e tortuosas ruas
os "passos" se postam
frios feito contas de rosário
o tempo em são joão
não segue o do ponteiro:
igrejas caducas
(sem mais nem menos)
anunciam pelos sinos
as horas de deus
e enquanto a aurora reza missa
o carnaval sonha com fevereiro
tantas mulheres
tantas mulheres
pra nada
meu coração
parece
um saco
sem fundo
me empresta
a linha
do seu coração
pra eu arremendar
o meu
partido
cantiga de amor
do alto a dona que doma
todo esse sentimento meu
por que meus olhos sofreu
e hão de chorar ainda
.................. vassalo me condenou
essa dona que me doma danada
todo esse peito meu
mais que poeta coitado
a ela me deixou atrelado
................ trovador deste amor
lamento
acorda januária acorda
pra essa estória escutar
nosso canto é um lamento
em cada peito ele está
acorda cidade acorda
engrossa essa procissão
da vela velando o chico
morrendo em nossas mãos
acorda januária acorda
vem a fileira engrossar
derramando suas lágrimas
neste rio por secar
acorda cidade acorda
que a morte está chegando
batendo em suas portas
por um rio lamentando
acorda januária acorda
vem com a gente chorar
que o velho chico agoniza
não pode mais esperar
quadrinha erótica
iguais em tudo
elas são
C O M O
são iguais
ainda não
ainda não
é possível amar
turvando o peito
nenhuma luz
simula brilho
ainda não
é possível amar
contida a mão
nenhum gesto
tece carinho
ainda não
é possível amar
selada a boca
nenhuma palavra
balbucia amor
ainda não
é possível querer
as várias releituras de um poema para um possível amor
na tua pele mulher
eu quero as mãos deslizar
de vontade tão macio
brando de acariciar
nas margens da tua boca
quero meu beijo aportar
de sempre te amar assim
do jeito qu'eu posso me dar
no teu corpo mulher
inteiro quero me entregar
num delírio intermitente
te amando além do amar
boneca de pano
toda menina esperta
apronta o seu presente
e toda contente faz
sua boneca de sempre
com um resto de retalho
recorta um formato de gente
que depois de costurado
de algodão ela enche
põe vestidinho florido
prega olhos de botão
inventa trança de corda
e depois num pano enrola
pedaço do seu coração
o amor é bicho doido
o amor
é bicho doido
não regula bem
da bola
quando menos
se espera
pedra atira
em nosso peito
o amor
é bicho doido
com seu saco
e seu porrete
menos quando
se espera
o seu cacete
deita em nós
o amor
é bicho doido
anda sempre
sem parar
por uma estrada
sem fim
sem nos dizer
quando chegar
o amor
é bicho doido
não regula bem
da bola
quando menos
se espera
pedra atira
no meu peito
o amor
é bicho doido
com seu saco
e seu porrete
menos quando
se espera
deita em mim
o seu cacete
o amor
é bicho doido
anda sempre
sem parar
por um estrada
sem rumo
sem ter pressa
de chegar
agulha do tempo
com a agulha do tempo
costurando no vazio
inutilmente tento
arremendar o ter sido
dum amor mais que desgastado
mas alinha do passado
é um fio tão frágil
que se arrebenta todinho
ao penetrar lentamente
no tecido da saudade
vazio
há muito eu ando
fumando muito :
uma ansiedade danada
devora meus sonhos
amarela meus dentes
mancha deixa
nos meus dedos
e o cigarro
MISTURA FINA
(qu'eu gosto tanto)
encharca de fumaça
a minha vida
reavaliação
.............. "amar o perdido
................ deixa confundido
................ este coração"
.............................. carlos drummond
não sei se a perda em si
(naquilo que em tudo é:
em si mesma tão perdida
um ganho pelo que é
nem tudo que é loiro é trigo
como todo homem nessa vida
em busca de terreno pra plantar
terra arei pra construir amar
e dela cuidei zeloso nessa lida
foram anos seguidos a fio foram
os cuidados com qu'eu tinha que cuidar
mas a semente escolhida pra gerar
disfarçando-se em trigo que era joio
sem saber que o que crescia erva era
daninha na intenção de desmoronar
a colheita qu'eu ansiava linda
em joio jorrou na minha vida
tão depressa sem dar tempo d'eu ceifar
pois vontade eu mais não possuía
o que antes era vivo amanheceu
(morto)
e todo aguardavam
(sem compromisso)
a sensação da hora
da alça do caixão
de saco cheio de tanto
esperar tanto
(o morto)
sem ter que comprar passagem
baixou lá pra ponte nova
e deu banana pra todos
réquiem para um morto
este morto
está morto
arbitrariamente
deposto
da vida
este morto
está morto
ordinariamente
exposto
este morto
está morto
profundamente
(sozinho)
sem dono
do mundo
destino
não sei se o destino por ironia
tramando anda todo pro meu lado
quando de estreito já me sinto largo
no mesmo nome antes tirania
teria enfim o tempo moldurado
o reencontrar no mesmo nome amor
quando antes o que era dor
me volta vivo de amor traçado
pouco me importa que o nome revivido
me traz a lume tal pressentimento
se em lugar de mágoa brota o sentimento
de amar uma outra de mesmo nome vestido
sete anos
se jacó sete anos dedicou de sua vida
por resgatar com trabalho o seu amor
foi no engano dessa espera indefinida
que em labão (pai) a trama se formou
não mais raquel (sua única preferida)
teve o pastor como sempre pretendia
porque "o pai usando de cautela
em lugar de raquel lhe dava lia"
no paralelo que a vida tece - o tempo
me reaviva de jacó o sentimento
porém meu peito em nada exaspera
no mesmo empenho hoje me hei visto
mas sei que o amor não se arma em ser confisco
pois ele é grande e se alastra pelas eras
cena de um sepultamento
lamuriando sobre a sepultura
olhos derramam
lágrimas sobre o morto
sob a terra fria
o corpo morto
permanece indiferente
nada mais me atinge
nada mais me atinge
senão a certeza (absoluta)
de eu sobreviver-me
seco por dentro
meus olhos são cristais
cumprindo o seco ofício
de aceitar (indiferente)
a turbulência das águas
dos outros derramando
frio feito um fio de navalha
minhas palavras sangram
na pelo dos outros
e o mais qu'eu posso
(nessa altura do campeonato)
é esperar que o tempo deles
se vista de cicatrizes
pois nada mais me dói
inventário
o que eu amava
(e me roubaram)
já não me importa
um tempo elástico
(cumprindo o seu papel de borracha)
lentamente vai apagando
o que eu sentia
o que eu presava
(e me tomaram)
já nem me toca
e de sobrante fica
(em mim eternamente):
uns sentimentos ralos
e uma suspeita antiga
de eu ter sido
perdas
perdas atrás de perdas
o tempo deposita
(em meu peito)
só lembranças
e a saudade
é uma chave-de-fenda
arrochando
um parafuso
(cá no dentro)
cantar bonito
"o que amas de verdade não te será arrancado
o que amas de verdade é tua herança verdadeira"
.................................................................. ezra poud
a muitas eu amei e hei amado
e sempre amarei por toda vida
que a mulher é ponto de partida
e pela vida se faz ponto de chegada
pouco importa os desencontros que hei tido
que a procura é sempre eternizada
ascende o fogo baixa logo a chama
mas da cinza sempre brota o renovado
assim serei pra sempre esse prestante
me atirando pelo gosto de amar
só não amarei quando me faltar um dia
a vida quando na morte eu me aportar
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